quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Prazeres da Metalinguagem Artística
Não é de hoje que a metalinguagem reflexo construtivista e a intertextualidade estão presentes na arte mais completa, fazendo os bem informados se deliciarem com citações referenciais artísticas. Portanto, toda vez que vemos uma referência intelectual cinematográfica bem feita vamos ao ápice. Uma das mais famosas é a seqüência da escadaria do fim do filme “Os Intocáveis” de 1987 do diretor americano Brian De Palma. Ela remete a cena do filme “O Encouraçado Potemkin” de 1925 do mítico e mais importante diretor soviético, Sergei Eisenstein. Esse nos mostra um fato histórico ocorrido em uma seqüência chocante de repressão violenta pela guarda do Czar sobre o povo na escadaria de Odessa em meio da Revolução Russa em 1905, com a morte de uma mãe e o conturbado caminho traçado pelo carrinho de seu filho bebê, despencando escadaria abaixo. O contexto nos esclarece: Eisenstein produziu o filme oito anos após a Revolução Bolchevique, era extremamente ativista, e fez o filme em homenagem aos 20 anos da Revolução Russa contra o Czarismo. Em um país comunista, onde as diferenças entre as supostas inexistentes classes sociais é abismal, o filme com movimentos grandes de população e atuação de atores não profissionais, chamados de atores sociais, juntamente com sua nova técnica de montagem revolucionária e brilhante, chocou e foi bem recebido pelo mundo, rendendo frutos positivos ao cineasta.
Abusando de planos absurdamente bonitos, panorâmicas e elevações perfeitamente ousadas, e criando uma nova técnica de montagem, chamada de montagem dialética, Eisenstein fez de Potenkim um dos filmes mais importantes da história do cinema, se não o mais.
Já o de De Palma refere-se a 1930 em Chicago, onde a Lei Seca gerava os maiores chefes da máfia do contrabando - e conseqüentemente da cidade -, entre eles o mais famoso, Alphonsus Al Capone. Ambos os filmes, apesar de roteiros extremamente diferentes, mostram um povo diretamente reprimido por uma força maior. Potemkin, porém, é claramente político- como todas as obras do magnífico Eisenstein-, já Intocáveis mostra um olhar político não tão claro, mais difícil de ver, talvez pela perfeição sonora e de misanscene característica de De Palma.
A homenagem intertextual feita por esse ao diretor soviético é comum e presente em outros filmes, devido ao fato de ele ter conseguido em 1925 todo o peso significamente político que muitos filmes não conseguem hoje em dia, fazendo com que suas referências ainda estejam fortemente presentes num mundo cinematograficamente pós-modernista.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário